ENTREVISTAS

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012


A ÚLTIMA ENTREVISTA DO CARTUNISTA OTÉLO CAÇADOR

Há seis anos - no dia 23 de janeiro de 2006 - morria o jornalista e cartunista Otélo Caçador. Pra quem não lembra, Otélo fez durante 33 anos uma página de humor no jornal O Globo, e foi um dos maiores artistas de sua época.
Na década de 90, eu fazia o Cartoon, um jornal de humor com “os órfãos do Pasquim”, uma galera, que com o fim do hebdomadário, ficou sem ter onde publicar.
Junto com os cartunistas Jaguar (Pasquim), Ykenga (O Povo), Ferreth (Extra) e Leonardo (O Dia), fui entrevistar o mestre.
Otélo nos recebeu no bar Degrau, onde, entre um gole e outro, falou durante cinco horas sobre o Leblon, música, boemia, mulheres, amigos, humor e, claro, futebol. (Ediel)


Leonardo – Otélo, como foi o começo? Quando você percebeu que queria ser desenhista?
Otélo – Ah, isso vem desde o tempo de colégio. Eu ficava desenhando a cara do professor, criava histórias em quadrinhos. Comecei como todo mundo.
Leonardo – Você jogou futebol?
Otélo – Joguei. Joguei futebol no Flamengo, mas era muito ruim.
Jaguar – Era ruim pra época ou hoje você jogaria?
Otélo – Não, não. Hoje ainda seria pior. Eu era ponta-esquerda que era mais próximo do vestiário. Era o primeiro a ser substituído.
Ediel – Por que Otélo Caçador?
Otélo – Otélo, porque meu pai era admirador de ópera e Caçador é uma família do Norte, pequenininha.
Ykenga – Você nasceu no Leblon?
Otélo – Não, eu não nasci no Leblon. Eu nasci no Irajá, mas vim morar aqui ainda garoto. Na época, ainda tinha burro pastando, bonde, podia-se dormir com a janela aberta.

“Sílvio Santos não tem uma televisão; ele tem um casino.” (Otélo Caçador)

Ykenga – No início, você teve que batalhar muito pra publicar seus desenhos?
Otélo – Foi meio acidental. Eu tinha um amigo que trabalhava no Jornal do Sports e levou uns desenhos meus pra lá e o Mário Filho gostou.
Ferreth – Você tinha quantos anos, na época?
Otélo – Era garoto. Tinha 19 anos. Era desenhista de arquitetura.
Ykenga – Quem eram os bons da época?
Otélo – Não tinham muitos, não. Tinha a ditadura do Getúlio e as charges eram proibidas. Tinha o Teo, o Mendez e o Nássara.
Leonardo – Foi você quem trouxe o Lan para o Brasil?
Otélo – Eu influenciei um pouco. Eu conheci o Lan em 1951, em Buenos Aires. Ele estava num jornal chamado Notícias Gráficas; aí eu falei com ele sobre o Brasil, o Rio, as mulatas. Ele é apaixonado por mulatas. E ele veio. O Samuel Wainer o levou pra São Paulo e daí ele veio pro Rio.
Ykenga – Qual era o estilo da época?
Otélo – Era mais a charge social, porque a charge política era censurada pelo DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda). Você não podia nem dizer que tava faltando água na rua. Eu peguei duas ditaduras; a do DIP e a militar.
Ediel – Você foi muito censurado?
Otélo – Eu não era censurado porque eu fazia futebol e no futebol a censura era menor.
Ediel – Mas existia intervenção no futebol. Lembra o caso da convocação do Dario, em 70?
Otélo – Dizem que o João Saldanha, na época, técnico da seleção, disse pro Médici: “O senhor convoca seu ministério e eu escalo meu time”. Quase foi preso. (RISOS)
Uma vez, eu fiz uma charge, acho que contra o Palmeiras, e um general mandou me dizer que se continuasse sacaneando o time dele ele mandava cortar a minha mão. (RISOS)
Ediel – Tem algum jogador que você tenha caricaturado e ele não gostou?
Otélo – O Brito. Eu fiz uma caricatura dele no programa do Chacrinha, ele olhou o desenho e disse: “Essa merda não sou eu, não” (RISOS).
Ediel – E o Brito era feio pra cacete! (RISOS). Quem eram seus ídolos?
Otélo – Eu sou fã do Nássara. O Nássara é o maior carioca. No dia que fizerem uma estátua representando o carioca, tem que ser o Nássara. Você faz uma pergunta pro Nássara e ele responde “carioca”: na sacanagem. E como caricaturista ele é formidável. Se o Nássara fizer tua caricatura e não ficar parecida, tua cara vai se transformando até ficar parecida com a caricatura (RISOS).

“Fiz uma caricatura do zagueiro Brito, ele olhou e disse: essa merda não sou eu.” (Otélo Caçador)

Ykenga – Você acha que revolucionou a maneira de desenhar?
Otélo – Não é revolucionar. Não é nada disso. É que os colegas da época faziam um desenho mais parado; e eu, como fazia futebol, tinha que dar movimento aos bonecos, só isso.
Ferreth – O público de futebol era maior, na época?
Otélo – Era praticamente a única diversão que o povo tinha. Era a praia e o futebol, o resto era censurado. Cinema era censurado, tudo...
Jaguar – No início da carreira você era duplamente reserva: era reserva do Ademir no futebol e do Péricles no jornal.
Otélo – Eu era reserva do Ademir porque ele era bom paca, e eu era ruim. Agora do Péricles eu não fui reserva, não. Ele veio primeiro pro Rio e ele era muito parecido comigo. Tinha aquele bigodinho. Ele desenhava pra Cigarra e eu pro Jornal dos Sports.
Ediel – Quando você conheceu o Péricles, em Pernambuco, você já desenhava?
Otélo – Eu já desenhava e ele também.
Você veio pro Jornal dos Sports pra substituir um argentino chamado Lourenço Molas, ele teve alguma influência no seu traço?
Otélo – Olha, quando você ta começando, sempre sofre várias influências, né? Teve muita gente que me influenciou. Não há geração espontânea. Todo artista começa seguindo alguém seja lá quem for.
Ediel – No Jornal dos Sports, Mário Filho te aconselhou a mudar de nome, por quê?
Otélo – Por causa do Grande Otélo. Ele disse: “Por mais conhecido que você se torne, você jamais será tão popular quanto o Grande Otélo. Por que você não assina Caçador?” Mais eu queria que os garotos da minha rua – a João Lira, no Leblon – soubessem que era eu, Otélo, quem fazia aqueles desenhos no jornal. Aí ficou Otélo, mesmo.
“Se o Nássara fizer tua caricatura e não ficar parecida, tua cara vai se transformando até ficar parecida com a caricatura.” (Otélo Caçador)

Jaguar – Como foi a criação da sua página de humor no jornal O Globo?
Otélo – Eu comecei fazendo charge diária. Aí, O Globo comprou umas máquinas a cores e eu passei a fazer os primeiros desenhos de humor coloridos do país. Não demorou, e o Roberto Marinho me chamou e perguntou: “você é capaz de fazer uma página de humor?” Eu, garoto, disse que sim, e realmente fiz essa página durante 33 anos. Ganhei 23 prêmios e a página foi um grande sucesso.
Ediel – É verdade que o Zezé Moreira uma vez quis te pegar?
Otélo – É. Uma vez aconteceu uma coisa engraçada em Londres, na Copa de 66: ele não me conhecia pessoalmente e nos pegamos o elevador juntos. Só eu e ele no elevador. Eu calado e ele começou a falar comigo: “o senhor é brasileiro?” (RISOS). “o senhor é jornalista?” (MAIS RISOS). Eu continuei calado (FAZENDO CARA DE MEDO). E o elevador não chegava nunca. Nessas horas o elevador demora pra burro (RISOS).
Jaguar – Por que ele tinha o apelido de Zezé Cavalo?
Otélo – Ele dava muita porrada quando jogava.
Ediel – Mas você deu umas porradas no Roniquito...
Otélo – Aquilo foi briga de bêbados.
Jaguar – O Henfil odiava futebol. Não ia ao Maracanã. Você gosta de futebol?
Otélo – Teve uma época que eu gostei mais, depois fui enchendo o saco com negócio de assalto, arrastão...
Ykenga – É verdade que você não atravessa túnel?
Otélo – (RINDO) Atravessar túnel, hoje em dia, é uma aventura. Tem assalto. Mais eu não gosto é de túnel que tem curva (RISOS). Túnel reto não tem problema que você vê o outro lado.
Ediel – Você criou expressões como “Placar Moral”, que são usadas até hoje...
Otélo – Criei. Crei o “Placar Moral”, “Leiteria”, “Campeão Moral”, “Rei do Futebol”... Tinha visto um filme do Victor Mature, “O Rei do Futebol”, sobre futebol americano, rugby. E no Brasil tinha rei de tudo: Rei do Baião, Rei do Rádio... Aí eu lancei o Zizinho como Rei do Futebol. Desenhei o Zizinho com coroa, cedro e tudo. Mas não colou. Depois, com o Didi, também não colou. Quando fiz o Pelé, colou na hora, porque ele realmente era o rei. Hoje, o Pelé diz que foi a imprensa francesa que deu a ele o título de rei do futebol. Mas ele ta certo. Entre um cronista do Leblon e a imprensa francesa, ele preferiu a imprensa francesa que dá mais cartaz a ele.
“Não há geração espontânea. Todo artista começa seguindo alguém seja lá quem for.” (Otélo Caçador)

Ferreth – E o “Diploma de Sofredor”?
Otélo – Quando eu criei o “Diploma de Sofredor” , por incrível que pareça, aumentou a tiragem do Globo às segundas-feiras. As pessoas compravam o jornal e recortavam o diploma para sacanear os amigos. Depois eu fiz o escrete dos pernas-de-pau, porque na época havia o escrete dos cobras, ai eu inventei e fiz com os piores da semana, mas eu só procurava botar cobras: Roberto Dinamite, Zico... Frases. Eu criei frases como "Pênalti não é coisa que se perca” e “Nada mais discutível que o pênalti indiscutível”, entre outras.
Ediel – Você disse uma vez que tudo que Pelé fez, Zizinho fez. Só que sem a televisão. Você acha Zizinho melhor que Pelé?
Otélo – Eram dois artistas. Artistas não se comparam. É comparar Francisco Alves com Orlando Silva. Agora, o Pelé era mais perfeito. Tinha o jogo aéreo. O Pelé subia três estágios, como o foguete.
Ediel – Era como o Dario, que dizia que parava no ar?
Otélo – É. O Dario dizia que só havia duas coisas que paravam no ar: ele e o beija-flor.
“Tudo que Pelé fez, Zizinho fez. Só que sem a televisão.” (Otélo Caçador)

Ediel – É verdade que você se inspirou na coluna “O Pangaré” do Haroldo Barbosa para fazer o “Penalty do Otélo”?
Otélo – É verdade, sim. A coluna do Haroldo Barbosa, mesmo quem não gostava de cavalos, lia.
Ykenga – Você tem algum livro publicado?
Otélo – Tenho. Tenho dois livros publicados: Livro Negro do Penalty - 1 e Livro Negro do Penalty - 2. O primeiro chegou a vender 25 mil exemplares. Um recorde, na época. Eu comprei um apartamento em Laranjeiras com o dinheiro do livro. Aí fiz o segundo e não aconteceu nada.
Jaguar – Aí teve que vender o apartamento (RISOS).
“Nada mais discutível que o pênalti indiscutível.” (Otélo Caçador)

Ykenga – O que você tá fazendo hoje?
Otélo – Hoje eu sou rico. Ah, e faço uma página de humor ás segundas-feiras no jornal Extra.
Ediel – Você sempre viveu da sua arte?
Otélo – Todo o dinheiro que eu ganhei na minha vida, ganhei desenhando. Cheguei a ter três apartamentos na zona sul.
Ykenga – Quantos jornais havia na época?
Otélo – Quantos tinham eu não sei, mas fecharam 17: Vanguarda, Diário da Noite, O Jornal, Correio da Manhã, Última Hora...
Ykenga – Tinha também O Diário.
Otélo – Fechou também.
Ediel – Quando você foi chamado pelo O Globo, pensava ficar lá 33 anos?
Otélo – Não. Não pensava. Jornal, você sabe, é emprego flutuante. Hoje você tá aqui, amanhã não tá mais.
Leonardo – O sucesso foi rápido?
Otélo – Há foi. Eu recebia cartas de todo lugar do Brasil. Vinham cartas do Ceará. Guaporé. Cidades que eu nem sabia que existiam.
Jaguar – Guaporé devia ser o Sarney que tava te escrevendo (RISOS).
Ykenga – Você tem fama de ter sido um grande boêmio.
Otélo – Todos os meus ídolos da época eram boêmios: Ary Barroso. Eu com 19 anos já tomava porre com Ary barroso. Afigura mais popular do Rio era o Ary Barroso. Ele trabalhava no rádio, na televisão, no jornal. Tinha uma seção no jornal que eu ilustrei. Tudo que o Ary fazia era sucesso. Ele era uma soma do Tom Jobim com o Chico Buarque. As pessoas assoviavam suas músicas nas ruas. Uma música só é sucesso quando o povo assovia nas ruas.
Jaguar – Como é que o cara vai assoviar, hoje, uma música do Gabriel Pensador (RISOS)?
Otélo – Dorival Caymmi era meu vizinho. Hoje parece que ele não bebe, mas na época, ele enchia a cara. Aí eu pensei: todo cara que faz sucesso toma porre, e eu queria ser sucesso. Quem é que não quer? Então acompanhavam...
Ediel – Hoje, se um jovem for acompanhar seus ídolos vai ter que cheirar muito (RISOS).
“Uma música só é sucesso quando o povo assovia nas ruas.”(Otélo Caçador)

Jaguar – Qual era a sua turma?
Otélo – (CONTANDO NOS DEDOS) Era o Luiz Jatobá, Silveira Sampaio, Dorival Caymmi, Vinicius de Moraes, Ary Barroso, Sérgio Porto, Antônio Maria, Lúcio Rangel...
Jaguar – Quem era o “pole-position” da boemia?
Otélo – Era o Lúcio Rangel. Não só da boemia, era um cara muito culto. Eu aprendi muito com Lúcio Rangel.
Ediel – Foi por isso que você disse que quem nunca tomou um porre com Lúcio Rangel não pode ser considerado carioca?
Jaguar – (RINDO) Felizmente, então, eu sou carioca. Tomei muito porre com o Lúcio Rangel.
Otélo – Ele esperava o Bofetada (bar carioca) abrir, sentado na calçada. No Zepellin (outro bar carioca), ao lado da cadeira do Lúcio, passava o encanamento do gás da cozinha, e tava vazando. Como ele era o primeiro a chegar nós já o encontrávamos de porre. Aí ele dizia: (IMITANDO O LÚCIO RANGEL) “Mas é o meu primeiro uísque, porra!” O porre era de gás (RISOS).
Jaguar – Ele foi o primeiro a tomar uísque gaseificado (MAIS RISOS).
Otélo – Ele tinha uma frase que ficou famosa: “A melhor bebida do mundo é o uísque. Depois, é o uísque falsificado.”
Ediel – Existia, na época, alguma diferença entre a boemia do Leblon e a boemia de Ipanema?
Otélo – (DIDÁTICO) Não. A boemia começou no centro, na Lapa. Depois veio pra zona sul. Teve o Bom Marché, teve o Zepellin, o Jangadeiro... Todos tiveram sua época.
Tinha até uma piada do Isac Zuckman, que foi secretário do Ary Barroso. Ele dizia: Aquele bar que tem nome de índio, o Xavantes. Não era Xavante, era Cervantes (RISOS).
“Quem nunca tomou um porre com Lúcio Rangel não pode ser considerado carioca.” (Otélo Caçador)

Ykenga – Dizem que o Ary Barroso, aonde chegava gostava de ser o centro das atenções.
Otélo – O Ary Barroso era o cara mais narcisista que já houve. Se chegasse a um bar e não se sentisse homenageado, ia pro telefone e berrava pra todo mundo ouvir: (IMITANDO A VOZ DO ARY BARROSO) “Alô, aqui é o Ary Barroso, autor de “Aquarela do Brasil”. Ontem irradiei o FLA_FLU, tenho mais de 300 músicas gravadas...”
Ykenga – (RINDO) Hoje quem faz isso é o Ziraldo.
Otélo – (GRITANDO NA DIREÇÃO DO GRAVADOR) Olha, é você que tá dizendo isto. Eu não disse nada (RISOS).
Ediel – Você ouvia muito rádio?
Otélo – Muito. Naquele tempo só havia o rádio. Eu tinha muitos amigos no rádio. Não havia a televisão. Não como hoje. Os maiores artistas surgiram no rádio; o futebol fazia muito sucesso no rádio. O rádio era basicamente isto: música e futebol.
Ediel – É verdade que foi você quem deu nome a esse bar?
Otélo – Foi. Eu marcava encontro com o Lúcio Rangel e dizia: “lá no Degrau. Aquele bar que tem um degrau.” Porque tinha um degrau que todo mundo caía, ou na entrada ou na saída. Geralmente, na saída.
Ediel – Numa entrevista que eu fiz com o cantor Elson do Forrogode, ele disse que comprou uma casa em Pedra de Guaratiba e, no dia seguinte chamou o pedreiro e falou: “tira essa merda daí que casa de bêbado não pode ter degrau” (RISOS). Lá, ele tem três banheiros: um pra mijar, um pra cagar e outro pra vomitar (MAIS RISOS).
Otélo – O Leblon é engraçado. Tem Luvaria Gomes, que não vende luvas, vende pratos. Tem o Café e Bar Bilhares, que nunca teve bilhar (RISOS).
Jaguar – E tem o Bar Memória que ninguém se lembra dele (MAIS RISOS).
Otélo – Tem o Bar Raquete, um pé-sujo. Nunca entrou um tenista (RISOS).
Ediel – É porque o dono deve dar raquetada em quem não paga a conta (RISOS).
Ferreth – Qual era a bebida preferida da turma?
Otélo – Uísque. O uísque foi trazido pelo Lúcio Rangel. Depois vieram o Vinícius de Moraes e o Paulo Mendes Campos.


“O Ary Barroso era o cara mais narcisista que já houve.”(Otélo Caçador)

Ediel – Você se reunia no Veloso com grandes nomes da MPB, mas, ironicamente, ali não se podiam tocar instrumentos musicais. Por que então vocês freqüentavam o bar?
Otélo – Porque era perto. Luis Bonfá morava em frente; Baden Powel morava num hotel ali perto; Tom Jobim, também. O Tom, por sinal, foi proibido de tocar violão aqui no Degrau. Um dia ele chegou e foi mostrar pra gente uma música nova que tinha feito. Começou tocar, aí o português chegou e disse: (IMITANDO O PORTUGUÊS) “Ó pá, aqui não se pode "tucar" violão” (RISOS).
Leonardo – Como é que você fazia pra fazer uma página de humor depois da boemia?
Otélo – Eu adiantava a metade e completava depois do jogo. Ás vezes, fazia duas charges, uma contra e outra a favor. Aí dava empate e eu ficava desesperado (RISOS).
Ediel – Tem uma frase que atribuem a você: “Humorista tem que escolher: ou ele é humorista ou é paulista. As duas coisas não dão.”
Otélo – É da época que eu gozava os colegas paulistas. O humor paulista é outro tipo de humor.
Ediel – Foi por isso que você falou que o Faustão não faria sucesso aqui no Rio?
Otélo – Foi uma surpresa pra mim. Eu achei que ele não faria sucesso por aqui. Também, é por causa dos prêmios. Você vê o Sílvio Santos. O Sílvio não tem uma televisão; ele tem um casino (RISOS).
Ykenga – Qual era o papel do Jô Soares nesse casino?
Otélo – O Jô jogaram ele lá pras onze e meia. Mas tem talento. O talento supera tudo.
Ediel – Quem era o melhor papo da turma?
Otélo – Aí era páreo duro. Tinham vários. O Haroldo Barbosa era um bom papo. Engraçado pra burro. Chegava numa mesa e fazia todo mundo rir.
Ykenga – Qual a participação das mulheres na turma?
Otélo – As mulheres vieram muito depois. Tinha a Aracy de Almeida, a Eneida. A Leila Diniz foi a primeira mulher a freqüentar um bar. A Leila tirou a mulher do tronco, como dizia Carlos Drummond de Andrade.
Jaguar – Tirou do tronco e levou o tronco pra cama (RISOS).

“Humorista tem que escolher: ou ele é humorista ou é paulista. As duas coisas não dão.”(Otélo Caçador)

Ediel – Sérgio Porto bebia pouco? Ele passava a noite mexendo o gelo do copo com o dedo.
Otélo – Ele bebia pouco. O Sérgio bebia pouco. Vinícius bebia bem. O Lúcio Rangel, também. O Sérgio, não.
Jaguar – O Sérgio não bebia, o dedo dele é que era alcoólatra (RISOS).
Ediel – Na sua época, era fácil viver de humor?
Otélo – Não era pior que hoje. Havia muita concorrência e o mercado era menor. A minha vantagem é que eu só fazia futebol.
Ferreth – É verdade que o Teo ia todo bonitinho pra revista O Cruzeiro e saía todo amarrotado?
Otélo – Ele bebia muito. O Teo era pau-d água.
Ediel – Você que por tantos anos fez coluna de humor, ironicamente, parou justamente por problemas na coluna.
Otélo – Eu passava muitas horas sentado desenhando, então como eu sou alto, ficava muito tempo curvado. Fatalmente, com o tempo, eu teria problemas de coluna, né doutora? (DIRIGINDO-SE A CÉLIA, MULHER DO JAGUAR, QUE ACABARA DE CHEGAR)
Ediel – Que conselhos você daria para um garoto quisesse seguir seus passos?
Otélo – Bom, primeiro ele tem que gostar de futebol e desenho. Tem que ter essas duas paixões e depois ter um pistolão como o Dr. Roberto Marinho (RISOS).
Jaguar – Ou como a dona Lili de Carvalho.
Otélo – É. Roberto Marinho agora não morre mais. Um homem apaixonado não morre. Agora, se o amor acabar, é fatal (RISOS).

“Um homem apaixonado não morre. Agora, se o amor acabar, é fatal.”(Otélo Caçador)

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